26 fevereiro 2006

“Sexo: tudo que ninguém fala sobre ele”, de José Ângelo Gaiarsa, da Editora Ágora
Tudo que o terapeuta José Ângelo Gaiarsa pesquisou, viveu, pensou e ensinou sobre sexualidade humana — ao longo dos seus mais de 50 anos de actividade profissional — está no livro "Sexo: tudo que ninguém fala sobre ele", editado pela Ágora. Nessa obra histórica, Gaiarsa fala do tema com bom humor, revelando aquilo que as pessoas sentem, pensam e imaginam. Palavras que, em geral, não são ditas, já que a educação sexual ficou relegada à forma impessoal com a qual a televisão, as escolas e a família lidam com o assunto. Eterno apaixonado pela vida, aos 84 anos, Gaiarsa prega um conceito simples, mas que muita gente ignora: o sexo não tem a ver só com os órgãos sexuais, tem a ver com o corpo e com o mundo em que se vive. Em suma, a relação sexual não existe se não houver relação pessoal.
Por isso, diz Gaiarsa, um dos principais objectivos do livro é tornar as pessoas mais verdadeiras em tudo o que se refere ao sexo, seja com o eventual parceiro ou parceira, seja nas declarações públicas. "Com sinceridade, as pessoas têm de dizer: ‘sinto assim, faço assim, gosto assim, não sei se gosto sempre da mesma forma, da mesma pessoa, de uma só pessoa, se amo o tempo todo ou para sempre’", diz o terapeuta.

Para expor seus pensamentos, Gaiarsa não se furtou inclusive a contar a trajectória da própria vida sexual, nem sempre glamorosa. "A sexualidade não falada ou mal falada na família e em público deformou minha personalidade e minha sexualidade, exigindo depois anos e anos de busca, de medo, de culpa, de vergonha, de frustração e de depressão". Nesse modelo e exemplo, garante o terapeuta, o leitor encontrará muito de si mesmo.
"A sexualidade é a melhor escola social de hipocrisia, de mentiras e de omissões, todas apreendidas em família, segundo nossas sagradas tradições.
Gaiarsa lembra que sem o corpo o amor é uma abstracção. "Filio-me decididamente aos que acreditam que o amor verdadeiro tem de vir de baixo para cima e não o contrário. De baixo para cima quer dizer do sexo, profundamente experimentado, do erótico (da pele, do contacto físico), dos movimentos (da dança que nos anima) subindo então — e depois — até o cérebro, aquecendo o coração no caminho....", afirma em um dos trechos do livro.
Outro motivo que levou o terapeuta a escrever o livro foi a disseminação da Aids. Segundo ele, foi preciso aparecer uma ameaça mundial e mortal para que as sociedades começassem a reconhecer publicamente que a sexualidade existe. "No entanto, a mídia mundial repete incansavelmente o refrão "de que não existe mais repressão sexual". Comentarei esse refrão em vários trechos do livro, apontando como a repressão continua a existir e quais as suas formas "modernas". Aliás, nem tão modernas".
Com mais de 25 livros editados, o médico e escritor José Ângelo Gaiarsa é conhecido pelas suas posições polémicas. Paulista de Santo André, formado pela Faculdade de Medicina da USP (1946), é um dos mais respeitados psiquiatras de São Paulo.

Sem comentários: